segunda-feira, 31 de março de 2008

ROCO

No mundo todo as orquestras reclamam de falta de jovens na platéia, do marasmo das apresentações e, principalmente, da inflexibilidade do formato dos concertos. Há uma pequena orquestra nos Estados Unidos, a River Oaks Chamber Orchestra, que parece ter feito algo concreto sobre estes problemas, que são universalmente comuns:

Concertos que se iniciam às 5 da tarde nos finais de semana, com 1h30 de duração;
creche gratuita durante o concerto e as crianças são trazidas para a platéia para a última peça do programa;
intervalo de apenas 5 minutos, no qual a orquestra se mistura ao público no foyer;
“obras surpresa” tocadas no início e final do concerto.

Além de tudo, se você preencher um formulário, você pode ser uma das quatro pessoas sorteadas para se sentar em meio à orquestra durante uma peça do programa.

Isto mesmo é fenomenal ou sou só eu que acho isto?

De uma olhada no site deles: http://www.rocohouston.org/

quinta-feira, 27 de março de 2008

Música contra o crime

Baseando-se numa experiência canadense, os londrinos começaram a tocar músia clássica em algumas estações de metrô visando diminuir a incidência de crimes. Ninguém sabe ao certo porque o experimento canadense funcionou mas a teoria mais aceita não é muito animadora para nós, promotores musicais. A música erudita é vista como algo nada "cool" por jovens, arruaceiros ou não. Basicamente, a música afugenta os passantes que ainda não tem cabelo branco. Ao ouvir música clássica os jovens começam a circular, ao invés de ficar encostados na parede pensando em alguma besteira.

É bem triste para nós que tentamos, ano após ano, aumentar a parcela de jovens em concertos.

Quem vai repor os freqüentadores de concertos que morrem? Será que ao fazer 50 anos a pessoa automaticamente passa a gostar de música erudita? Ou o futuro de Shostakovich é mesmo catastrófico?

terça-feira, 25 de março de 2008

Carta de Mozart

A música que hoje chamamos de erudita, já foi música popular, e quando era popular, o seu público tinha um comportamento muito menos formal, que seria considerado extremamente mal-comportado hoje em dia.

O interessante é que Mozart não parecia se importar muito. Na verdade, adorava...

Trecho de carta de Mozart sobre a première de uma de suas sinfonias:

“...No meio do primeiro Allegro veio uma passagem musical que eu sabia que o público iria adorar. A platéia da estréia se deixou levar e explodiu em palmas. Como eu sabia que adorariam esta passagem, eu a repeti no movimento final, de cabo a rabo. Também gostaram do Andante mas principalmente do último Allegro porque eu, sabendo que geralmente os Allegri começavam com todos os instrumentos juntos em uníssono, comecei somente com dois violinos, tocando suavemente, depois mais forte. Como eu esperava, a platéia dizia “Sh!” na parte suave e, na chegada do forte, todos começaram a aplaudir...”

Se Mozart, então com 22 anos, adorava aplausos do público, no meio de suas obras, por que somos tão restritivos com aplausos hoje em dia?

terça-feira, 18 de março de 2008

Piano na Mangueira

De noite para o dia, pianos apareceram em lugares insuspeitos de Birmingham, na Inglaterra: fora de uma escola, no meio de um corredor de um shopping center, na porta de uma biblioteca. Todos tinham a inscrição: "Toque-me, eu sou seu". Obviamente sempre há um passante que sabe tocar alguma coisa e pessoas se surpreendem com talentos desconhecidos de seus amigos que, sem mais nem menos, sentam-se e tocam todo um movimento de uma sonata de Debussy.

Conheço bem a cabeça dos ingleses portanto esta iniciativa não me surpreende. Instalar obras de arte em lugares inusitados (como as estátuas de Gormley espalhadas por Londres, todas apontando para a Tate Modern) ou apresentações de ópera em estações de trem ou festivais de música pop. Um destas iniciativas, a mob opera, seria fabulosa aqui no Brasil: num dado momento, dezenas de cantores líricos misturados à multidão numa estação de metrô, começam a cantar árias, duetos e coros de Puccini, Verdi, etc. Imagina o que ia passar na cabeça dos fatigados usuários do metrô num final de tarde. Iam adorar, empurrar os cantores nos trilhos por atrapalhar a circulação? Difícil não ter alguma reação.

domingo, 16 de março de 2008

Pianista ou pianola?

A renomada pianista britânica Joyce Hatto, especialista em Chopin, Rachmaninoff e Liszt viveu os últimos trinta anos de sua vida no mundo do faz-de-conta. Hatto se apresentou em público até 1976 quando, devido a problemas de saúde, deixou os palcos e passou a se dedicar a gravar uma extensa discografia aclamada pelos mais exigentes críticos. Hatto morreu em 2006, deixando um enorme número de fãs e obituários elogiosos em toda a crítica especializada.

Agora decobriu-se que grande parte da obra gravada da Joyce Hatto, não é verdadeiramente dela. As gravações foram identificadas como de pianistas como Lazlo Simon, Minoru Nojima e Vladimir Ashkenazy, entre outros. As gravações destes outros artistas tiveram sua velocidade ligeiramente alterada, algumas tiveram o timbre do piano mudado mas são, indubitavelmente, resultado de décadas de plágio por parte de Joyce Hatto. Infelizmente a pianista não está mais entre nós para se explicar...

PS: pianola, para quem não sabe, é um dispositivo mecânico que reproduz em um piano músicas registradas em rolos de papel perfurado.

sábado, 15 de março de 2008

Uivos e assobios

O público de música erudita se comporta, na maioria das vezes, exemplarmente: veste-se bem, respeita os intervalos entre movimentos e evita qualquer ruído que possa incomodar os ocupantes das poltronas vizinhas. Mas há exceções... Na première da ópera Aida de Verdi no La Scala de Milão na temporada passada, o tenor superstar Roberto Alagna teve a sua participação encurtada por vaias. O público operístico italiano é sabidamente exigente e pouco reservado com suas opiniões, mas Alagna não conseguiu suportar e deixou o palco durante o dueto com a princesa egípcia que seguia a sua ária. O desastre foi contornado pelo substituto Antonello Palombi, que subiu ao palco e cantou o resto da ópera.

Vale notar que Alagna é casado com a soprano Angela Gheorghiu, famosa por seus caprichos de diva no palco e fora dele. Alagna processou o La Scala e jura que nunca mais se apresentará na mais famosa casa de ópera do mundo.
Está até no YouTube http://www.youtube.com/watch?v=ghuuJTGNVqA&mode=related&search=

sexta-feira, 14 de março de 2008

Intro

Meu nome é Eric, trabalho com artes há 12 anos, após alguns tristes anos estudando Engenharia. Trabalhei com Teatro, Música pop, Circo contemporâneo, Museu, Dança e hoje me dedico exclusivamente à Música erudita. Acordo Barenboim, calculo Tchaikovsky, almoço Ashkenazy, converso Beethoven e janto Maazel.

Meu filho tem dois anos e eu tenho uma certa culpa de não ter-lhe dado nenhuma instrução musical ainda. Minha mulher estabelece cotas máximas de eventos por mês e já sabe identificar a maioria dos instrumentos (as madeiras ainda a confundem um pouco).

Será que vale mais a pena dedicar o tempo a Mozart do que à contabilidade, trade marketing, processos litigiosos? Eu acho que sim.