segunda-feira, 28 de abril de 2008

Tenor que é tenor...

...canta o chamado dó de peito. Em toda profissão há desafios estabelecidos e metas que todos querem alcançar. Para alguns isto é ganhar o primeiro milhão, para outros subir o Everest. Para os tenores, é dar um dó de peito, ou nove...

O tenor Diego Florez acaba de fazer a façanha e quebrar uma regra não escrita em duas das mais famosas casas de ópera do mundo. Deu um bis no Scala de Milão e no Metropolitan em Nova York. O bis, ou encore era comum no século XIX mas, com o elevado profissionalismo e seriedade das encenações atuais, tornou-se mais raro. Afinal, o enredo estaciona enquanto alguém sobre o palco repete exatamente o que acaba de cantar. Ninguém dava um bis no Metropolitan desde 1994, e no Scala, desde 1933.

Diego cantou os nove dós de peito seguidos da ópera A Filha do Regimento, de Donizetti, deixando boquiabertos americanos e italianos. Depois cantou-os todos novamente. Quem viu, viu, quem não viu vê no Youtube (primeiro dó aos 6'00''):

terça-feira, 22 de abril de 2008

Guia da Orquestra para os Jovens

Muito melhor do que desenhar num diagrama as diferentes seções de uma orquestra e como estas seções se arranjam sobre o palco, seria ver, e ouvir, esta “máquina de fazer música” funcionando ao vivo. Pelo menos isto era o que achava Benjamin Britten, um dos mais importantes compositores ingleses e patrono da orquestra para a qual eu trabalhava em Londres, a English Chamber Orchestra.

Britten compôs uma peça chamada Guia da Orquestra para os Jovens com esta finalidade. Uma pequena frase musical é executada pelos diferentes instrumentos e seções da orquestra em inúmeras variações. Pode-se ouvir claramente como o timbre, dinâmica e articulação variam de instrumento para instrumento. Ao final, um trecho em fuga é tocado pelos instrumentos todos, seção por seção, como uma batata quente passada de músico para músico.

Para Britten, “jovem” não queria dizer “criança”, e a beleza desta pequena obra pode ser aproveitada por jovens de 5 aos 85.

Está dividida em duas partes. A maravilhosa fuga está nos 5’33’ da segunda parte.

1ª parte


2ª parte

Nomenclatura

Como devemos chamar a música composta por Beethoven, Mozart e Tchaikovsky?

“Música erudita” tem um caráter exclusivista e elitista que não é compatível com a música que estes compositores fizeram (principalmente até o século XVIII, quando esta música foi verdadeiramente popular). Erudição lembra mofo, Academia Brasileira de Letras e óculos muito grossos.

“Música clássica” é historicamente incorreto. Muitos dos compositores que hoje ouvimos (Tchaikovsky, por exemplo) compuseram sua obra após o final do Período Clássico (quando Mozart viveu, por exemplo) ou antes (como Bach).

“Música de concerto” não faz muito sentido, especialmente porque em outras línguas, como o inglês, se fala em concerto de Rock, não show de Rock.

Voltando à língua inglesa: lá eles falam até em “Música Séria”, o que obviamente não tem sentido algum, implicando que falta seriedade em todos os outros tipos de música.

Fica o impasse. Enquanto isto continuamos usando termos pouco próprios, preconceituosos ou demeritórios.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

I´m too sexy for classical music

A revista inglesa Muso é uma revista de música clássica, mas tem um enfoque bem diferente das tradicionais Gramophone e BBC Music Magazine. O visual é bem leve, cheio de cores, informal e os textos parecem os de revistas de cultura popular.

Entre as suas seções está Ponto G, um ranking alimentado pelos leitores com os músicos mais sexy (homens e mulheres) do mundo erudito. Aos que acham que a música erudita não tem solistas e regentes com sex appeal, lembro nomes como Janine Jansen e Nicola Benedetti (abaixo).



O circo está armado. Certamente isto vai trazer mais leitores à revista, e provavelmente algumas meninas vão preferir ir ao próximo concerto do galã Jurowsky do que assistir ao octagenário Colin Davis.

Vanessa Mae foi acusada por meio mundo de vender música com poses sexy. E solistas naturalmente lindos, mesmo sem altas produções, maquiagens ou plásticas? Devem ou não ser glamurosamente estampados nos CDs e cartazes? É pecado? Vai pro inferno?

Dê uma olhada no ranking da Muso http://www.musolife.com/g-spot.html

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Orquestra de Cãmara de Zurich

130 dB

A Orquestra Sinfônica da Rádio da Bavária cancelou a première mundial da obra Halat Hisar, composta pelo compositor israelense Dror Feiler porque os músicos da orquestra temiam danos a sua audição. A obra começa com som de rajadas de metralhadora e chega a 130 decibéis, o equivalente ao ruído da decolagem de um jato.

Anel dos Nibelungos

Imagino o que algiuém pouco afeito ao circuito erudito pensa do título acima. Será um novo jogo de RPG ou o novo livro do Harry Potter?

O Anel dos Nibelungos ou Anel, como é chamado no mundo todo, é um ciclo de óperas de Wagner. Quatro, para ser mais exato, durando um total de mais de quinze horas. A grande ambição de qualquer casa de ópera que se preze é encenar o seu Anel, que custa caro, demanda anos de planejamento e pressupõe a existência de público preparado para assistí-lo. O Anel só foi encenado uma vez no Brasil, em Manaus, o que aumentou ainda mais o caráter inusitado do projeto, uma coisa bem Fitzcarraldo.

Pois bem, o público habitual do Anel é muito particular. Uma grande parte deles assiste não a uma das operas, mas às quatro, viaja atrás de novos Anéis produzidos em outros países e programam viagens anos à frente para pegar o novo Anel no Metropolitan ou em Bayreuth.

A notícia é que os fãs nova-iorquinos do Anel estão furiosos pois não receberam prioridade de compra de ingressos para o próximo Anel no Met, a ser encenado em 2009. Esta prioridade foi dada aos assinantes das séries de concerto habituais. O problema é ainda maior porque o Anel de 2009 será a última apresentação da produção clássica dirigida por Otto Schenk. A partir de 2010, o Anel encenado será uma nova produção, ainda desconhecida dos Aneleiros.

Um drama pior que o de Frodo Baggins, do Senhor dos Anéis...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Masterclasses

Muitos grupos musicais que vêm para o Brasil dão masterclasses gratuitas para jovens músicos e para ouvintes interessados, mesmo que não toquem instrumento algum.

O que um grande solista poderia transmitir a um jovem músico em algumas horas de aula, mesmo que ele tenha exclusividade do dito "mestre" por uns 20 ou 30 minutos? A resposta é: muito. Mais do que conteúdo propriamente técnico (que também é discutido), estes solistas e membros de orquestra são capazes de fazer comentários que ficam na memória do instrumentista por décadas, são aptos a encorajá-los, em poucos minutos, a tomar uma postura e atitude inteiramente diferente perante o público (e seu instrumento) além de, às vezes, mudar toda a sua concepção de vida.

Obviamente, o fato destes "mestres" serem nomes conceituados e respeitados mundialmente faz uma grande diferença pois somente encontrar o solista, observar como ele pega o seu instrumento ou ouví-lo a poucos metros de distância já é um acontecimento em si. A experiência destes músicos com milhares de públicos, países e instrumentistas diferentes muitas vezes os capacita a desfilar pensamentos que são, ao mesmo tempo, estimulantes e confortadores.

Para muitos dos participantes, uma masterclass não se esquece nunca…

Como uma orquestra voa ?

Alguém tem idéia do que é co-ordenar vôos internacionais e nacionais para uma orquestra de 120 pessoas, além de solistas e regente? Alguns com instrumentos que ocupam assentos do avião, outros com instrumentos que não cabem no avião, outros com um ego do tamanho do avião?

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Vivaldi em Veneza

Meus sogros acabaram de retornar de Veneza e me trouxeram um CD com concertos de Vivaldi. Adorei o CD mas gostei mais ainda do presente por uma referência histórica. Quando Vivaldi vivia e compunha em Veneza, era uma prática comum das classes abastadas ir a compositores locais e encomendar pequenas peças como "recordação da viagem". O compositor compunha uma sonata ou uma peça curta e a vendia para os turistas que, no retorno às suas cidades, tocavam ou contratavam alguém para tocar as pequenas obras em suas casas. É obvio que Vivaldi e seus contemporâneos não se faziam de rogado e vendiam a mesma peça númeras vezes para diversos "turistas".

Achei maravilhoso este paralelo entre os costumes que, apesar da distância de quase três séculos e da tecnologia, são tão parecidos. Trazer para casa um pouco de música de Veneza.